“Dizer e Não Pedir Segredo” chega a Salvador nos dias 26 e 27 de maio
Sucesso em São Paulo, a montagem Dizer e Não Pedir Segredo,
ganhadora do prêmio PROAC LGBT 2010 e indicada ao prêmio da Cooperativa
Paulista de Teatro como uma das melhores encenações em espaços
não-convencionais, chega em Salvador, através do prêmio FUNARTE Myriam Muniz
para circulação de espetáculos teatrais, nos dias 26 e 27 de maio, com
apresentações na Casa Preta, às 20h.
A peça, dirigida por Luiz Fernando Marques - integrante do premiado
Grupo XIX de Teatro (SP), retrata o universo da homossexualidade no Brasil, a
partir de intensa pesquisa para revelar facetas históricas importantes do amor
entre iguais e também explorando a participação do público. No elenco, Ronaldo
Serruya, Luiz Gustavo Jahjah e Paulo Arcuri.
A criação, pesquisa e dramaturgia ficou por conta de de Ivan Kraut, Luiz
Fernando Marques, Luis Gustavo Jahjah, Paulo Arcuri e Ronaldo Serruya e teve
forte influência do livro “Devassos no Paraíso”, de João Silverio Trevisan, que
foi o ponto de partida para o Grupo.
Na obra, Trevisan conta a história da homossexualidade brasileira, com
narração de várias histórias acontecidas em São Paulo, Bahia e Rio de Janeiro,
entre outros lugares, desde o período colonial. Histórias e casos de amigos
também foram importantes na composição da dramaturgia.
O espetáculo e a participação da plateia
Dedicado à memória de Ivan Kraut, o espetáculo é um mergulho no universo
da homossexualidade masculina no Brasil, sob uma perspectiva histórico-social,
na busca da construção de uma identidade gay em paralelo a uma identidade
brasileira. O texto da peça, criado de forma colaborativa pelos atores e
direção, embaralha os tempos, vai e volta cronologicamente, e constrói, numa
linha evolutiva, um olhar sobre o desejo.
Os textos passam pelo olhar da criança, em um primeiro momento. O olhar
que nada julga sobre o desejo, que se expressa de maneira libertária, sem
amarras, por não saber ainda categorizar os valores. Ao mesmo tempo em que
estes textos se contextualizam num tempo histórico onde o Brasil ainda
engatinha, ainda dá os primeiros passos para construir a sua ‘ grandeza épica
de povo em formação’.
A encenação de Dizer e Não Pedir Segredo é construída com a
cumplicidade da plateia, que interage e assiste às cenas dentro do próprio
espaço cênico: uma sala, que poderia ser qualquer sala, de qualquer família
brasileira, lugar onde por hipocrisia ou medo nada se revela, ou melhor, tudo
se apresenta velado, sob os signos reconhecíveis da norma padrão, de uma
sociedade heterossexual falocêntrica que dita as regras.
Na peça, a sala, como um possível ícone desse padrão, se desvela aos
olhos da platéia conforme os códigos cênicos vão sendo dados. Os espectadores
decidem onde se sentar, escolhem adereços e figurinos, e compõem com seus
corpos e gostos este ambiente de estar, transformando-se em sugestões de
personagens, ações, climas e situações. Esta interatividade é feita de maneira
delicada e gradativa, e faz com que a dramaturgia se renove a cada
apresentação.
O olhar sobre as diferenças
"Falar sobre o gênero é falar da complexidade que envolve o desejo
humano. É tarefa árdua e perigosa, e se deve evitar, a todo custo, que a moral
compareça, que o bom senso impere e que o julgamento se instaure. É preciso
aceitar a diferença", diz Luiz Fernando Marques, diretor do espetáculo.
Marques explica ainda que, em um primeiro momento, o olhar da criança se
expressa de maneira libertária, sem amarras, por não saber ainda categorizar os
valores. “À medida que avançamos no tempo, este olhar infantil vai ficando pra
trás, os valores e preconceitos são introjetados, discutidos, colocados em
conflito nas relações familiares, mães e filhos, pais e filhos, nas relações de
classe, nas relações de poder, tendo como moldura um País que tenta a passos
trôpegos e contraditórios construir a sua ‘grandeza épica de povo em formação”,
completa.
Sobre o encontro - Teatro Kunyn
"O teatro é casa do afeto, todo mundo sabe disso. É um lugar para
afetar e ser afetado, deixar-se transpassar, sagrar-se instrumento, comungar
uma reflexão, compartilhar paradigmas. No encontro encontro entre os atores
Ronaldo Serruya, Paulo Arcuri, Ivan Kraut e Luiz Gustavo Jahjah e do diretor
Luiz Fernando Marques, nasceu o Teatro Kunyn: pelo desejo de pesquisar e
refletir sobre a questão de gênero no Brasil, de tentar entender o que seria a
construção de uma identidade gay em paralelo à construção de uma identidade
brasileira, e assim perceber como cada um de nós vivia a sua própria
homossexualidade", conta o ator Ronaldo Serruya.
"Queríamos responder a pergunta: o que é ser gay neste país? Não
encontramos respostas, e sim mais perguntas", diz o ator, que conta que
durante mais de dois anos o grupo mergulhou em livros, filmes, artigos,
teorias, documentários e depoimentos. "Colocamos na mesa de discussão e na
sala de ensaio nossas próprias experiências para construir o discurso, achar o
tom, o recorte, o que queríamos dizer. Foi um longo processo para poder revelar
o segredo. E nunca a vida esteve tão presente, com toda a sua contraditória perversidade.
Perdas, alumbramentos, separações, descobertas, reencontros. Como diria o
poeta: os sentimentos vastos não tem nome", explica Ronaldo.
Ficha técnica
Criação, pesquisa e dramaturgia: Ivan Kraut, Luis Gustavo Jahjah,
Luiz Fernando Marques, Paulo Arcuri e Ronaldo Serruya
Supervisão dramatúrgica: Ronaldo Serruya
Direção: Luiz Fernando Marques
Elenco: Luiz Gustavo Jahjah, Paulo Arcuri e Ronaldo Serruya
Assistência de direção: Daniel Viana
Iluminação: Wagner Antônio
Figurinos e adereços: Ligia Yamaguti e Felipe Cruz

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